24 dezembro 2009
22 dezembro 2009
Feliz Natal a todos!
Por
S. Leite
às
21:20
2
comentários
18 dezembro 2009
Com o pé na argola da sintaxe
Por
S. Leite
às
13:47
1
comentários
Palavras-chave: concordância , construção frásica , sintaxe
17 dezembro 2009
Desafio
Para quem ainda não se cansou, aqui fica mais um texto com alguns erros para caçar!
Tal como o homem pré-histórico, temos necessidades fisiológicas de cuja satisfação dependemos para sobreviver. Por isso, em pleno século XXI, a vida continua a ser o grande valor a perservar. A necessidade de sobreviver-mos continua a ser a nossa primeira e última necessidade, ainda que muitos não tenham consciência disso.
Efectivamente, o homem moderno, civilizado, urbano, vive rodeado de todos os confortos e munido de enúmeros meios que lhe permitem “superviver”, pelo que tende a esquecer-se de que a morte o espreita, a todo o momento, como sempre espreitou. Para além disso, as suas preocupações quotidianas, mais ou menos supérfulas, tornam-no egoista, ou pelo menos indiferente às ameaças à vida de outrém.
Por
S. Leite
às
12:31
6
comentários
Palavras-chave: desafio , ortografia
11 dezembro 2009
Portinglês aos pontapés no Moodle
Por
S. Leite
às
09:56
2
comentários
Palavras-chave: concordância , estrangeirismos , flexão , verbos
04 dezembro 2009
Afinal, qual é o plural de item?
-->
Quanto ao plural de item, este não pode, naturalmente, ser *items, pois o português não admite esta combinação entre o m final do nome no singular e o s do plural, sendo necessário substituir a primeira das duas consoantes por n, para manter o ditongo nasal, à semelhança do que sucede com um/uns, nuvem/nuvens, batom/batons e por aí fora. Portanto: itens.
Por
S. Leite
às
16:08
12
comentários
Palavras-chave: flexão , ortografia , plural , pronúncia
02 dezembro 2009
E aberto sem acento
Tal como nem tudo o que luz (ou reluz) é ouro, nem todo o e aberto precisa de acento. Por duas razões:
Por um lado, o acento agudo (que "sobe" para a direita) serve SEMPRE, isto é, EXCLUSIVAMENTE, para marcar a vogal tónica de uma palavra: a mais forte, a que se ouve melhor, a que prolongamos quando gritamos essa palavra.
Se quando gritamos a palavra pedicure não prolongamos o e, então isso significa que não podemos colocar sobre ele um acento gráfico, pois a vogal tónica é u (pedicuuuuuuuuuure!).
Por outro lado, uma vogal aberta, como [ɛ], [ɔ], ou [a], não leva necessariamente acento agudo, mesmo quando é o núcleo da sílaba tónica. Precisa dele quando a palavra em questão poderia ser pronunciada de outra forma, sem o acento, como se pode verificar com médico, que sem acento gráfico passa à forma verbal (eu) medico; cópia, que se transforma em (ele) copia; e o célebre cágado, que já estão a ver no que dá...
Mas se não há margem para erro ou dúvida, por exemplo, quando não há mais nenhuma vogal na palavra (e a vogal existente não é a última letra), como acontece em gel, mel, mal e dar, então o acento agudo é dispensável. Seria absurdo escrever már, sál, quér e sól, tal como é absurdo escrever gél.
Obrigada, Matilde, pela foto!
Por
S. Leite
às
13:21
2
comentários
Palavras-chave: acentuação , estrangeirismos , ortografia
26 novembro 2009
Aos alunos que foram avaliados hoje
Por
S. Leite
às
14:00
6
comentários
Palavras-chave: desafio , ortografia
25 novembro 2009
Para os alunos que vão ser avaliados amanhã...
Por
S. Leite
às
12:23
21
comentários
Palavras-chave: construção frásica , desafio , ortografia
24 novembro 2009
Os crioulos dos séculos XX/XXI
Os crioulos, como sabemos, nasceram da necessidade de comunicação por parte de pessoas que falavam línguas diferentes e pretendiam, essencialmente, estabelecer trocas comerciais. Derivam de códigos linguísticos simplificados e mistos (conhecidos como pidgins), ou seja, baseados nos idiomas dos intervenientes na sua criação.
Mas hoje em dia, os crioulos ainda estão na moda, apesar de o inglês ser a língua franca do mundo dito civilizado. São criados pelas pessoas que traduzem os textos das instruções de produtos comerciais fabricados em série, sobretudo os mais baratos e/ou de qualidade duvidosa, e cingem-se à comunicação escrita.
Nos crioulos desse tipo aparentados com a língua portuguesa, os acentos gráficos estão nas palavras erradas ou simplesmente não aparecem, há palavras que são abreviadas ou simplificadas, o ç é frequentemente substituído por um c, a ortografia aproxima-se da de outras línguas cujo léxico seja semelhante (normalmente, as línguas que o tradutor domina melhor) e a sintaxe pode apresentar particularidades bizarras, que por vezes dificultam a interpretação da mensagem.
O exemplo da imagem ainda apresenta semelhanças muito fortes com a língua portuguesa, mas, nos casos mais sofisticados, a boa utilização do produto exige a aprendizagem prévia do crioulo em que as instruções estão escritas, apesar de, à primeira vista, parecer português!
Por
S. Leite
às
13:01
0
comentários
Palavras-chave: divagações , ortografia , sintaxe
20 novembro 2009
Qual a forma correcta?
O desafio de hoje é identificar a palavra grafada correctamente, em cada par:
condicente / condizente
cônjuge / cônjugue
podesse / pudesse
carrocel / carrossel
despoletar / despultar
magestoso / majestoso
obcessão / obsessão
perscrutar / prescrutar
precariedade / precaridade
resplandecente / resplandescente
subestimar / substimar
torácico / toráxico
Por
S. Leite
às
13:05
7
comentários
Palavras-chave: desafio , ortografia
17 novembro 2009
Cuidado com a escrita!
A dispensa é o acto de dispensar. O lugar onde se guardam víveres é a despensa.
Página 104 (e outras): «Não tardariam as perseguições aos herejes».
A palavra hereges escreve-se com g.
Página 176: «Mesas com tampo de formica»
Por
S. Leite
às
16:39
4
comentários
Palavras-chave: ortografia
12 novembro 2009
Dicas para a comunicação eficaz
DEPOIS da comunicação, não se esqueça de:
Por
S. Leite
às
15:05
0
comentários
Palavras-chave: comunicação , divagações , oralidade
05 novembro 2009
Imperetrivelmente
Por
S. Leite
às
13:27
1
comentários
Palavras-chave: ortografia , palavras
03 novembro 2009
Scanear?!
O aparelho com o qual o verbo está relacionado lá está igualmente dicionarizado na sua forma gráfica original: scanner (mas sem o itálico!) . Quer isto dizer que o verbo poderia ser scannerizar ou, aportuguesando a grafia, scanerizar, usando-se a combinação entre SCANNER + -IZAR. Inclusivamente, há quem prefira scanar e quem diga, com bom humor, sacanear...
Por
S. Leite
às
10:35
16
comentários
Palavras-chave: dicionários , estrangeirismos , palavras
30 outubro 2009
Desafio verbal
Por
S. Leite
às
14:16
8
comentários
27 outubro 2009
O já e o agora que são depois
Por
S. Leite
às
18:14
0
comentários
Palavras-chave: divagações , palavras
23 outubro 2009
Erro à vista II
Por
S. Leite
às
11:04
10
comentários
Palavras-chave: concordância , construção frásica , desafio
22 outubro 2009
Verbos defectivos
Por
S. Leite
às
13:36
1
comentários
20 outubro 2009
Erro à vista!
Ontem fiquei levemente chocada ao deparar com um erro de ortografia nesta frase, que li na Infopédia, da Porto Editora:
"A Organização de Libertação da Palestina (OLP) reinvindica também um espaço político e nacional para os Árabes da região, secundarizados e vítimas de certa repressão e indiferença hebraica."
Consultei de imediato o respectivo dicionário de língua portuguesa e verifiquei que apresenta a palavra em causa devidamente grafada. Depois, procurei na página um cantinho onde fosse oferecida aos leitores a oportunidade de enviarem comentários e sugestões (que existe no Priberam) e inicialmente não encontrei nenhuma indicação que me permitisse enviar para a equipa a chamada de atenção. Mais tarde descobri: basta clicar em "Centro de contacto", na página principal. Vou enviar à Infopédia uma mensagem!
Por enquanto, a gralha lá continua, indiferente. Pode ser uma falha tipográfica involuntária, mas não deixa de ser grave, considerando que se trata de uma enciclopédia divulgada no mundo inteiro!
Conseguem identificá-la?
Por
S. Leite
às
13:22
14
comentários
Palavras-chave: desafio , ortografia
15 outubro 2009
O mistério da "perna extra"
E dos produtos cujas descrições nas embalagens são acompanhadas destes pseudo-atributos, o mais engraçado, sem dúvida, é o "fiambre da perna extra".
Pode então entreter-se a imaginar porcos mutantes, ou geneticamente modificados, e cuja quinta perna serve assim para proporcionar um lucro ainda maior aos produtores. Outros poderão considerar a hipótese de a expressão "perna extra" constituir um recurso estilístico, não sei se uma metonímia, se uma perífrase, que designaria.......... é melhor não dizer!
Por
S. Leite
às
19:30
5
comentários
Palavras-chave: divagações , palavras
13 outubro 2009
"há-des reparar nas gramas"...
Por
S. Leite
às
10:35
4
comentários
Palavras-chave: masculino ou feminino? , ortografia , palavras
09 outubro 2009
Acordo para quê?
amnistia anistia
averiguam averíguam
catorze quatorze
conceção concepção
desporto esporte
encontrámos encontramos
facto fato
íman ímã
indemnizar indenizar
maioritário majoritário
metro metrô
planear planejar
polémico polêmico
quotidiano cotidiano
receção recepção
registo registro
soutien sutiã
stress estresse
subtil sutil
Por
S. Leite
às
10:04
5
comentários
Palavras-chave: Acordo Ortográfico , ortografia
07 outubro 2009
À pesca de erros...
Por
S. Leite
às
11:45
8
comentários
Palavras-chave: desafio , ortografia
02 outubro 2009
Concordância, concordância...
Por
S. Leite
às
11:51
0
comentários
Palavras-chave: concordância , construção frásica
29 setembro 2009
Beijos, beijinhos e beijinhos grandes
Se é verdade que as redundâncias saltam mais à vista (há dias um candidato a uma junta de freguesia prometia "enfrentar os problemas de frente"), não é menos certo que os contra-sensos são de evitar.
As pessoas que se despedem com "beijinhos grandes", por exemplo, ainda não devem ter reparado que assim se denunciam como mentes contraditórias, o que naturalmente não abona em seu favor.
Devo dizer, porém, que a interjeição de despedida que se criou recentemente na nossa língua, "beijinhos!", é bastante afectuosa e original. Para além disso, dizer a palavra "beijos" é uma forma forma bastante prática e indubitavelmente mais higiénica de substituir o acto de beijar outra pessoa na face (podíamos até passar a dizer "beijos" também quando nos encontramos!). Finalmente, é uma forma eufemística de pormos fim à conversa sem mandarmos a outra pessoa para o Além, com o terminal "adeus", e também sem nos comprometermos ao reencontro, através de um "até logo" ou de um "até amanhã" que poderia, em muitos casos, revelar-se inconveniente, ou dar azo a mais dez minutos de diálogo.
Os beijinhos são simpáticos e educados qb, embora tenham o inconveniente de serem desaconselhados para o uso estritamente masculino, a menos que a relação entre os intervenientes dite o contrário.
Estou em crer que a despedida dos "beijinhos" terá surgido nos contextos em que as pessoas comunicavam sem se verem, como por exemplo ao telefone, e assim começaram a pronunciar o nome que se tornou interjeição. Daí até se ter instalado no nosso léxico como uma das palavras que mais vezes pronunciamos ao longo do dia (nós, mulheres, está claro), em paralelo com "não" e "aaah..." foi um instantinho.
Logo surgiram as variantes, como os "beijos" (para uma despedida mais formal), o "beijo" (mais sedutor), os "beijinhos grandes" (das tias?) os "jinhos", as "beijokas" e as "jokas" (para a malta jovem), os "beijos, queijos e alfaces fresquinhas" (para amigos com mais tempo e criatividade) e outras versões mais económicas, como "bjks" e "bjs", para mensagens de correio electrónico e telemóvel.
Parece-me que, perante uma fórmula de despedida tão agradável, eficaz e versátil, mas que infelizmente fica melhor às mulheres, os homens precisam urgentemente de encontrar algo semelhante, para poderem beneficiar das mesmas vantagens nas despedidas verbais. Permitam-me, leitores, que vos deixe as seguintes sugestões: "aperto-de-mão", "toque-no-ombro" e "palmadinha". Que tal?
Por
S. Leite
às
13:24
6
comentários
Palavras-chave: divagações , palavras
25 setembro 2009
Maldito hífen
Por
S. Leite
às
19:27
4
comentários
Palavras-chave: hífen , ortografia
23 setembro 2009
Meio-dia e meio e setecentos e oitenta e um euro
Por
S. Leite
às
16:25
2
comentários
Palavras-chave: concordância , construção frásica
18 setembro 2009
Acresce ao desafio
Por
S. Leite
às
13:22
7
comentários
Palavras-chave: construção frásica , desafio , verbos
16 setembro 2009
Propriedade global
Por
S. Leite
às
15:05
6
comentários
Palavras-chave: divagações
10 setembro 2009
Ponto, vírgula e acento

Por
S. Leite
às
10:08
2
comentários
Palavras-chave: ortografia , pontuação
07 setembro 2009
"Vir ao de cima" ou "ao de cimo"?
Qual será a construção correcta deste provérbio português tão conhecido?
«A verdade e o azeite vêm sempre ao de cima»
ou
«A verdade e o azeite vêm sempre ao de cimo»?
Ao de cima é uma locução adverbial que significa «à superfície». Cimo é um nome masculino que designa a parte mais elevada de alguma coisa. Seria correcto utilizar a expressão «ao cimo», mas não “ao de cimo”!
Por conseguinte, a construção correcta é «a verdade e o azeite vêm sempre ao de cima».
Azeite, de cima; mel, do fundo; e vinho, do meio!
Por
S. Duarte
às
09:51
5
comentários
Palavras-chave: palavras
02 setembro 2009
"Rugby" à portuguesa
Há palavras estrangeiras que não custa nada adaptar. É o caso do futebol e do andebol, que, por mais celeuma que tenham causado na altura em que se passaram a escrever à portuguesa, hoje não nos chocam, nem provocam hesitações, embaraços ou birras, pelo menos que se note.
Outras, como o nome do desporto britânico rugby, causam verdadeiro stress (setress? Stresse? Setresse? Estresse?!) a quem as pretende dizer ou escrever.
Mas as dúvidas na escrita resolvem-se mais facilmente. Basta consultar um dicionário para verificar que o aportuguesamento do nome inglês resultou na forma râguebi, que, se tem um aspecto cómico e pouco convincente, pelo menos resolve o problema ortográfico, uma vez que se encontra consagrada em diversos dicionários e é, portanto, 100% correcta. Isto não significa, porém, que não haja outras possibilidades para grafar o termo em português. O Dicionário Houaiss regista também rúgbi (só para gerar a polémica...) e, por enquanto, ainda podemos optar por escrever rugby, em itálico.
Contudo, quando alguém pronuncia a palavra - e aqui está mais uma daquelas singelas incongruências do nosso idioma falado - o que oiço, na maior parte das vezes (e não é coisa de agora), é "râibi", com ditongo no início e sem o g antes do b. Porquê? Não faço ideia.
Minto. Tenho uma ideia. O que sinto (é mais prudente dizer que se trata de um sentimento) é isto: as pessoas parecem recear que pronunciar rugby à inglesa seja um sinal de pretensiosismo e procuraram uma forma fazer com que o estrangeirismo lhes saia mais rápida e discretamente. Como se dizer "râguebi" estivesse ao nível de pronunciar ténis e hambúrguer como "téniss" e "hembârgar".
Experimentem: a boca até fica mais fechada quando dizemos "râibi", comparativamente a "râguebi", que também demora mais tempo a dizer. E reparem que, com muitos estrangeirismos, aconteceu o mesmo: a forma como os pronunciamos, em português, mstra bem que não temos a intenção de andar para aí a imitar os sotaques alheios. Dizemos "penálti" em vez de "pénalti", "lizing" e não "lissing" (leasing), "ultimaite" e não "âltimate" (ultimate). Ou seja, lemos as palavras à nossa maneira, até porque nem sempre sabemos como é que elas se pronunciam na língua de origem. Isto acontece sobretudo quando as palavras têm uma forma gráfica demasiado estranha ou imprevisível quanto à pronúncia. E para não arriscar fazermos rir os outros com a nossa tentativa de "falar estrangeiro", preferimos fazer ligeiras adaptações fonéticas às palavras que importamos.
Resta saber se o "râibi" ainda vai dar origem a mais uma variação gráfica do rugby...
Por
S. Leite
às
14:37
3
comentários
Palavras-chave: estrangeirismos , ortografia , pronúncia
28 agosto 2009
Laura, de áurea aura
Áureo é «de ouro banhado»,
Aura é «sopro, emanação».
Portanto, áureo é dourado
E a aura etéreo clarão.
Mas, se o teu cabelo é louro
fico na dúvida, Laura!
Pois aúreo parece de ouro...
E se for dourada a aura?
Então, vamos lá ver:
se estou apaixonado
e é áureo o teu cabelo,
como é que devo dizer:
tens uma áurea de encanto
- ou no termo estarei enganado?
Por
S. Leite
às
15:55
1
comentários
Palavras-chave: divagações , palavras , parónimos
24 agosto 2009
O correcto que soa mal
No primeiro comentário ao texto anterior, um(a) leitor(a) sugere que determinada estrutura gramatical está incorrecta «porque soa mal». Esta é uma explicação simples e aparentemente eficaz, usada sobretudo por todos os que não dominam (nem têm de dominar!) a terminologia necessária para se aventurarem em explicações técnicas. Isto não é, portanto, uma crítica, nem faria sentido que o fosse. Também os linguistas, aliás, são apanhados a tentar decidir como se deve dizer uma expressão de acordo com o critério da boa ou má "sonoridade".
Ao longo da vida, mas de forma mais notória durante os anos da infância em que adquirimos o idioma materno, vamos seleccionando e guardando na memória as combinações e flexões que "soam bem" (porque são as que ouvimos mais) e descartando aquelas que, embora pudéssemos ter usado inicialmente, se revelam inadequadas, porque não encontram eco e por vezes são até apontadas como erradas "porque soam mal". E assim as crianças deixam de dizer "fazi" e "escrevido" para passarem a dizer fiz e escrito, esquecem-se dos "balãos" e das "cavalas" e registam balões e éguas.
Porém... a língua reserva-nos muitas surpresas, mesmo quando já somos adultos e julgamos saber tudo o que é preciso para falar correctamente. Se estivermos atentos e abertos, a revelação, para alguns interessante, para outros incómoda, é inevitável: nem tudo o que soa bem porque se ouve muito (pelo menos em certos meios) é necessariamente correcto. E vão-se acumulando os exemplos...
Ora, façam a experiência de tentar decidir o que ouvem mais e o que está certo, das seguintes possibilidades:
"Pesava três quilos e duzentos" ou "pesava três quilos e duzentas"?
"Ainda bem que eu intervim a tempo" ou "ainda bem que eu intervi a tempo"?
"Era bom que ela se entretesse" ou "era bom que ela se entretivesse"?
"Irei quando reaver o dinheiro" ou "irei quando reouver o dinheiro"?
"Foi condenado por ter matado o irmão" ou "foi condenado por ter morto o irmão"?
"Far-te-ia muita diferença" ou "faria-te muita diferença"?
E por aí fora...
Por
S. Leite
às
09:11
7
comentários
Palavras-chave: construção frásica , flexão , sintaxe
18 agosto 2009
Que, de quem e cujo
Pedindo desculpa a todos por ter ido de férias sem avisar (!), aqui estou novamente, com uma pergunta: qual das seguintes opções não serve para completar a frase e porquê?
Aquele é o meu vizinho...
a) que a filha é candidata à presidência da Câmara Municipal.
b) cuja filha é candidata à presidência da Câmara Municipal.
c) de quem a filha é candidata à presidência da Câmara Municipal.
Por
S. Leite
às
10:45
3
comentários
Palavras-chave: concordância , desafio , pronomes , sintaxe
31 julho 2009
Chumbar… é não passar!
O verbo chumbar, do ponto de vista sintáctico, não encontra consenso entre os estudiosos da língua. Os puristas consideram-no um verbo transitivo directo, isto é, um verbo que pede um complemento directo, por exemplo: “O professor chumbou o aluno”. Construções como “o aluno chumbou” são, portanto, consideradas incorrectas.
Os linguistas contemporâneos, pelo contrário, consideram esse tipo de construções perfeitamente legítimas, designando-as «estruturas causativas”, semelhantes a: “A neve derreteu (com o calor)” = “O calor derreteu a neve” ou “O navio afundou-se (com a tempestade)” = “A tempestade afundou o navio”.
Ora, se no plano sintáctico se aceitam diferentes posições, no plano semântico declara-se tolerância zero! Principalmente aos profissionais da comunicação!
Jornalistas da nossa praça empregaram este verbo inapropriadamente, ao noticiarem o voto contra de alguns partidos relativamente ao relatório da Comissão Parlamentar ao caso BPN, referindo que “o relatório foi chumbado pela oposição”.
Ora, se o relatório tivesse sido chumbado, não teria sido aprovado!
Tal como viver é não morrer, desaprovar é não aprovar, também chumbar é não passar, logo, a notícia deveria ter tão-somente evidenciado que os diferentes partidos votaram contra o dito relatório!
Por
S. Duarte
às
15:04
2
comentários
Palavras-chave: verbos
29 julho 2009
A triste história da camisola em Portugal
Era uma vez uma camisola, que havia chegado há muitos séculos a Portugal. Viera de França, mas sem grandes pretensões nem ambições.
Entrara devagar, com discrição e humildade, no nosso léxico e nem se importara quando a obrigaram a substituir o seu e final por um a mais português. O que ela queria era mesmo ficar por cá, por isso achou bem assumir uma forma que a identificasse e confundisse mais com as palavras portuguesas. E a sua vontade e determinação foram tão fortes, que os falantes se esqueceram de que a camisola tinha vindo de fora, acarinhando-a como cidadã do léxico nacional.
Um dia, porém, quando ela própria já tinha esquecido as suas origens, os falantes começaram a impacientar-se com ela. Alguns deixaram de a querer usar, sem razão aparente. Outros acusavam-na de ser demasiado ambígua, de servir para tudo e para nada, de não satisfazer as suas necessidades vocabulares. Alegavam que outras palavras, frescas e sofisticadas, se revelavam muito mais eficazes para aplicar nos diversos contextos em que as camisolas não eram, afinal, simples camisolas. E as divertidas t-shirts, as confortáveis sweat-shirts, os bonitos pullovers, as frívolas sweaters e os jovens tops foram-se insinuando na cabeça dos falantes. Mas, como eram cheias de si, estas palavras fizeram uma exigência: que a sua forma e graça original fossem sempre mantidas, de modo que não admitiam mudanças ortográficas nem deslizes de pronúncia.
E as camisolas, que antes nos tinham servido tão bem, em todas as ocasiões, foram preteridas em favor dessas novatas impertinentes, que agora se julgam as melhores do mundo.
É uma história comum, infelizmente...
Por
S. Leite
às
12:14
2
comentários
Palavras-chave: divagações , estrangeirismos , palavras
27 julho 2009
O absurdo de suicidar outrem
Segundo o
Outros dicionários acrescentam que "sui" é latim e significa "de si", pelo que o suicida é aquele que provoca a sua própria morte, ao contrário do homicida (e a esta luz a pronominalização até parece redundante, já que quem se suicida o faz necessária e exclusivamente a si próprio).
Ora, isto não será surpresa para ninguém... excepto talvez para os responsáveis pela definição do mesmo verbo no Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea da Academia das Ciências de Lisboa, para quem o verbo suicidar (de suicida + -ar) tem um terceiro sentido, que é «destruir completamente», podendo por isso ser sinónimo de «ANIQUILAR, MATAR, TRAIR». E para que não restem dúvidas, lá está o exemplo, a frase que citei na entrada anterior: «O tradutor suicidou o texto».
Os comentários a esta frase na semana passada não foram muitos, mas eu não tenho dúvidas de que, pelo menos ao falante comum, aquele emprego do verbo suicidar se afigura no mínimo estranho. E como não se trata de uma acepção de um domínio técnico ou científico, nem encontro outro dicionário que corrobore aquela informação, começo a pensar que a pessoa que a escreveu se encaixa num destes perfis:
a) abusador de drogas
b) criativo compulsivo
c) abusador de drogas e criativo compulsivo
Posso estar enganada, mas... quem é que me desengana?!
Por
S. Leite
às
14:54
1
comentários
Palavras-chave: dicionários , palavras , verbos
23 julho 2009
Suicídio homicida
Hoje apresento-vos esta frase:
«O tradutor suicidou o texto.»
Gostaria que nos dessem a vossa opinião sobre o emprego que nela se faz do verbo suicidar. Estará correcto? Será usual? A mim soa-me muito mal! Depois vos direi onde a encontrei...
Por
S. Leite
às
14:37
2
comentários
21 julho 2009
A suspensão do suspense....
Desde criança que sempre ouvi dizer suspense com um u assobiado afectadamente, a atirar para o ditongo - [ju] -, um s bem sopradinho por entre os dentes e a letra e transformada em "ã", para tornar bem claro que era uma palavra francesa.
Há muitos anos, contudo, também ouvi alguém dizer (quem teria sido essa alma iluminada?) que andava tudo enganado, porque a palavra suspense era de origem inglesa e, como tal, a pronúncia afrancesada não fazia qualquer sentido e deveria ser prontamente substituida, claro está, por um sotaque muito British, em que o u afinal se tornava um "a".
Os falantes de português pareceram-me então divididos em dois grupos: o dos que faziam uma boquinha pequena para sussurrar o "siuspanse" franciú e o dos que a abriam corajosamente para vocalizar um "saspenssss" à bife. E era preciso decidir qual o lado a escolher, para poder usar aquele estrangeirismo. Porque, tenho de admitir, havia ocasiões em que me parecia que ele era necessário, por mais que me esforçasse por substituí-lo por palavras mais vernáculas, como "suspensão" ou "expectativa-angustiante-mas-que-ao-mesmo-tempo-dá-um-certo-gozo-relativamente-ao-desenrolar-dos-acontecimentos-sobretudo-nas-narrativas-literárias,-televisivas-dramáticas-ou-cinematográficas".
Um dia, resolvi consultar o Dicionário Etimológico de José Pedro Machado e verifiquei, sem grande surpresa, que "suspense" não constava do rol de palavras sobre as quais se forneciam preciosos dados relativos à sua introdução na nossa língua. Mas o Houaiss confirma que se trata de um empréstimo do inglês, que por sua vez foi importado do francês, que por sua vez deriva, claro está, do latim.
Contudo, a origem não é o que mais importa, no fim de contas. Se estivéssemos à espera de saber de que língua vêm todos os estrangeirismos que utilizamos para os podermos pronunciar correctamente, teríamos de suspender o discurso a todo o momento para consultar fontes eruditas, por exemplo antes de dizer pijama, iate ou iogurte.
E o Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea aí está para demonstrar que a contenda entre os sotaques francês e inglês para pronunciar "suspense" não se resolve por via erudita: o que conta é a forma como se convencionou dizer a palavra entre nós, ou seja, a pronúncia que nele se recomenda é a que foi consagrada pelo uso e que (lamentavelmente ou não, depende do ponto de vista), acaba por não ser fiel a nenhuma das duas: "suspanse".
Para mim, o "suspanse" perdeu a graça. Não é carne nem peixe, não aquece nem arrefece. Com a desvantagem de criar uma relação imprevisível entre o "a" sonoro e o "e" escrito, que dá azo a erros ortográficos.
Mas pelo menos já podemos pronunciar todos a palavra da mesma maneira, sem receio de que alguém nos venha dizer que estamos enganados. Valham-nos os dicionários com chave fonética!
Por
S. Leite
às
12:05
2
comentários
Palavras-chave: estrangeirismos , palavras , pronúncia