Quem não teve já dúvidas aos formar os plurais de certas locuções nominais e de nomes compostos? É que algumas das regras que determinam a sua flexão em número nem sempre são fáceis de interpretar...
Vejamos estas duas: a) se o composto for formado por dois nomes ou nome e adjectivo, flexionam-se ambos os termos no plural; b) se o segundo termo, sendo um nome, funcionar como determinante do primeiro, só o primeiro se flexiona no plural.
Exemplifiquemos com hora extra e pombo-correio.
No primeiro caso, extra é um adjectivo (formado por truncamento a partir da palavra extraordinário). Logo, concorda em número com o nome que qualifica. Assim como diríamos “horas extraordinárias”, também devemos dizer “horas extras” – porque as palavras truncadas também têm plural (como fãs, motos, metros, pneus, etc.)
No segundo caso, o substantivo correio também, de certo modo, qualifica o nome pombo, mas não se flexiona no plural porque está a condicionar o significado do primeiro termo: podemos dizer que se trata de pombo(s) com função de “correio”. Não faria sentido dizer que, quando os pombos são vários, também passa a haver diversos “correios”. Há, nesse caso, vários pombos com a mesma função (de correio).
É a mesma lógica do peixe-espada: podemos referir-nos a vários peixes, mas nunca serão várias “espadas”, porque o termo espada apenas indica que os peixes têm essa forma.
Já a flexão de porco-espinho em número deve formar-se com ambos os termos no plural: porque, afinal, não se trata de um porco com forma de espinho, mas de um nome composto por dois substantivos em que nem um nem outro designa directamente a realidade representada. Por isso, ambos se flexionam: porcos-espinhos.
Conclusão: formar um plural de um nome composto dá muito que pensar!
(08.06.07)
Ainda há pouco tempo tive uma dúvida dessas com "fim-de-semana".
ResponderEliminarThe plural is dead. Long live the singular!
Jaime
www.blog.jaimegaspar.com
De um nome composto e de muitos outros :s
ResponderEliminarbj
Uma boa lição!..
ResponderEliminarE tenente-general e major-general?
ResponderEliminarNão me vai dizer que "(...) dois substantivos em que nem um nem outro designa directamente a realidade representada"!!! Ambos são generais, mas nenhum é só tenente ou só major... Porque se fossem só tenente ou só major não podiam ser generais!!! Mas já foram tenentes e majores...
E agora?
Nos casos que refere, caro L. A. Fraga, não se aplica essa ideia que tentei explicar a propósito de porco-espinho, para o distinguir do peixe-espada. No entanto, é claro que ambos os elementos vão para o plural. É o que acontece com os nomes compostos que designam postos militares, salvo raras excepções.
ResponderEliminarQuanto a fim-de-semana, Jaime, é fácil: sempre que há uma preposição no meio, apenas o primeiro elemento se flexiona: fins-de-semana, pés-de-cabra, chapéus-de-chuva, etc. Excepto se a primeira palavra for invariável, por exemplo um advérbio (como em sempre-em-pé, que no plural fica igual ao singular).
A propósito de fim-de-semana, lembrei-me, também, de uma anedota com graduações da nossa marinha de guerra.
ResponderEliminarExiste um posto (equivalente a coronel) que na nossa Armada se designa por capitão-de-mar-e-guerra (plural: capitães-de-mar-e-guerra). Alguém, do Exército, recordando a ausência de entrada em campanha da nossa Marinha, dizia que os nossos capitães-de-mar-e-guerra eram mais "capitães-de-rios-e-escaramuças" (singular: "capitão-de-rios-e-escaramuças"... Não me pergunte o motivo desta "contra-regra").
Claro que os visados esboçavam sempre um sorriso amarelo