07 maio 2024

"Ensinou-o" ou "ensinou-lhe"? (Os escritores também se enganam!)


Certamente já tiveram esta dúvida:

"ensinou-o" ou "ensinou-lhe"?

Precisam de um esclarecimento? Aqui fica!

Tanto "ensinou-o" como "ensinou-lhe" são formas legítimas - a diferença no pronome (o ou lhe) prende-se com o uso da preposição a

Ora, o verbo ensinar permite-nos:

a) Ensinar alguma coisa a alguém

b) Ensinar alguém a fazer alguma coisa

Repare-se, então, que apenas no primeiro caso "alguém" vem precedido de preposição, sendo o complemento indireto da oração - portanto, substituível pelo pronome lhe(s). No segundo caso, a preposição não está associada a esse "alguém", mas antes àquilo que se ensina (uma ação, como "a fazer" ou "a distinguir"). Nestes contextos, portanto, tal ser é o complemento direto, que deve ser substituído pelo pronome o/a(s).

Assim:

a) Ensinar-lhe [a alguém] alguma coisa

b) Ensiná-lo [alguém] a fazer alguma coisa

Portanto, em vez do texto sublinhado na página que se vê na imagem, deveria estar:

Eu ensinava-o a distinguir os grilos das grilas [...]
e

Eu ensinava-o a distinguir as bolotas das landes [...]

2 comentários:

  1. No norte diz-se landras e as fêmeas dos grilos são as coias

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  2. O objeto direto neste caso parece ser muito mais comum modernamente, mas o uso do objeto indireto também é registado em gramáticas, por exemplo, nesta https://www.aulete.com.br/gram/cap11-15-regencia. , e tem antecedentes literários.
    O tirocinio da taberna ensinou-lhe a falar as linguas dos bairros comerciais. - Fialho de Almeida
    Ensinaram-lhe já a avaliar em pouco as venetas de um velho quase tonto. - Júlio Dinis
    Exemplos retirados do Córpus do Português

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